tag:blogger.com,1999:blog-50411948016576086492024-03-19T16:23:19.203+00:00Incontro.Verso<br>
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<br>Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.comBlogger34125tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-13079417980871708542024-03-19T16:22:00.003+00:002024-03-19T16:22:29.160+00:00A sorte que se soletra<div>A frustação levou-me a acreditar</div><div>na sorte</div><div>em particular,</div><div>na falta dela.</div><div>Esta propensão ao inevitável</div><div>são sentimentos que nos abalam,</div><div>que arreliam</div><div>e nunca terminam.</div><div>É verdadeiramente a sorte</div><div>a realidade que queremos?</div><div>Tal como a imaginação a sorte</div><div>é um mundo cheio de utopias e distopias</div><div>que só existem na sua inexistência.</div><div>E assim criamos prisões em lugares</div><div>que mais tarde não reconhecemos,</div><div>não lembramos.</div><div>Fabricam-se confusões</div><div>em volta de ilusões</div><div>cognitivamente inatingíveis e compreensíveis.</div><div>Erradicamos a possibilidade de ter uma voz</div><div>ativa</div><div>pronta de respostas.</div><div>É apenas a lei opressiva que opina.</div><div>Questiono: como deixamos que se elege</div><div>e albergue uma ditadura dentro de nós?</div><div>Teoricamente a sorte é selvagem,</div><div>só vantagens</div><div>mas na prática...</div><div>disfarça-se de autossabotagem.</div><div>Que regime este.</div><div>Que cobardia a minha...</div><div>A sorte é uma saída ou fantasia?</div>Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-40706933938270887812024-01-27T01:18:00.005+00:002024-01-27T01:20:53.467+00:00.<p>Fomos filhos da mesma época.<br /></p><p>Lias literatura clássica enquanto desenhavas poemas.</p><p>Eu, compassadamente gosto de poesia</p><p>e escrevo na teoria,</p><p>palavras aglomeradas</p><p>das preocupações de uma sociedade</p><p>cansada delas.</p><p>Mas uso as tuas emprestadas</p><p>como minhas.</p><p>Para que o sossego se pareça maior.</p><p>Repito repetidamente a mesma melodia -</p><p><br /></p><p>Encontrar poemas</p><p>escondidos,</p><p>é como encontrarmo-nos</p><p>nas entrelinhas.</p>Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-41219403004120752382023-07-08T18:24:00.002+01:002023-07-08T18:28:58.862+01:00Esse persona<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAsA9d_EucEtv398bNesa-mABJPCQn4I1xZsOayAtav2bSQ1r9io-OhJ_KY1lzTr9ta9kuU5iBGecg37PvgdFpVglqIxe4P7ugqlxbXXjotUALe45svt_T8l9C-CfVj31fTD1uVeWLui8He_wXNnghemZg0WrNpTqAGfqNuqV-SkBgb3K_5qBGQnMLRcY/s2289/PicsArt_03-30-04.00.09.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1526" data-original-width="2289" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAsA9d_EucEtv398bNesa-mABJPCQn4I1xZsOayAtav2bSQ1r9io-OhJ_KY1lzTr9ta9kuU5iBGecg37PvgdFpVglqIxe4P7ugqlxbXXjotUALe45svt_T8l9C-CfVj31fTD1uVeWLui8He_wXNnghemZg0WrNpTqAGfqNuqV-SkBgb3K_5qBGQnMLRcY/s16000/PicsArt_03-30-04.00.09.jpg" /></a></div><div><br /></div>Só isto. Porque é que temos tanto medo de tornar visível o que nos ilumina, o que nos faz querer tanto seguir aquele caminho e não o outro? Porque continuamos a emitir partículas vazias e ajudamos a cultivar a escuridão na sociedade? Somos todos tanto quanto todos. Se somos todos tanto, de formas tão diferentes, porque continuamos todos tão fechados e tão céticos à diferença? E se começássemos a encarar a diferença maioritariamente como algo original, diferenciador e valorativo. Talvez a luz nascesse na sociedade que nos envolve. Porque tudo o que envolve pessoas tem por base mecanismos de feedback positivo – quanto mais se cultivar bons sentimentos, mais estes aumentam e se espalham.<br /><br />Porque temos continuamente tanto medo da partilha da nossa luz? Vivemos numa sociedade em que este problema habita na maioria das pessoas. O problema não é da sociedade o problema é da forma como as pessoas que a compõem pensam. E porque pensamos desta forma? Afinal de contas do que é que temos medo? E porque é que temos esse medo? A necessidade de pertença, a um grupo, faz-nos sentir integrados, seguros e compreendidos, mas continuamos a ser todos diferentes. É na luz, que não somos capazes de partilhar com o mundo, que habita a nossa individualidade e nos possibilita integrar nos grupos com que nos identificamos sem que nos anulem, porque continuamos todos a ser pessoas diferentes. Porque é que, mesmo sabendo que não existe nenhum problema com isso, muito pelo contrário, continuamos a ter tanto medo das nossas diferenças, das nossas capacidades? Somos seres complexos e com necessidades cada vez mais envoltas de sensações extremas, somos cada vez menos capazes de nos focarmos somente no momento exato em que estamos, achamos que tudo tem de ter um motivo ou razão de ser e vivemos constantemente num loop de procura de respostas a perguntas quase sempre retóricas. E adiamos o que nos faz sentir quem realmente somos pelo medo de não sermos aceites, quando na verdade não se trata de uma opção de escolha, mas de uma obrigação para connosco. Porque afinal de contas temos tanto medo de sermos nós mesmos, se silenciosamente o queremos tanto ser? O que nos impede? O limite e a aceitação é para connosco, não é algo que devemos esperar de outros. Deixamos que o medo se torne o nosso limite quando na verdade não o queremos, nem acreditamos nas decisões que tomamos em função do medo que guardamos e acumulamos com os anos. Vamos criando uma personagem paralela à pessoa que realmente somos, ao ponto que o medo se transforma na realidade que vivemos, mas é meramente uma ilusão mental que nos confunde e tenta afastar-nos de nós mesmos porque se torna um caminho mais confortável e indolor, achamos. É tudo uma ilusão infeliz. Porque é que continuamos a tomar decisões por influência do medo quando não nos fazem felizes? Quando é que vamos passar a criar de acordo com o amor? <br /><br />E é só isto, <i>esse persona</i>. <div>Porque o amor faz crescer a luz.<br />(Em cada um de nós)</div>Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-72750076965692236702023-06-01T23:03:00.003+01:002023-06-10T19:27:47.955+01:00Rom(a)nti(zar)Em tempos escrevia romances, <br />Ou possíveis ensaios que mais tarde o poderiam ser. <br />Rascunhos de um amor perdido entre papeis juvenis <br />E uma imaginação que não parava de romantizar a vida que queria ter. <br />Certamente a facilidade das palavras delicadas não me faltavam, <br />Nem me falhavam. <br />Vivia através das pessoas que celebrava num olhar, <br />Sorria-lhes como forma de amar <br />A energia que me faziam sentir, <br />me permitiam expressar <br />E sonhar. <br />Era como uma dança que me embalava. <br />Mas não me levou longe, nem me trouxe para perto. <br />Agora, <br />não sei o que escrevo… <br />Nem no que acredito… <br />Mas escrevo o que vivo. <br />Neste labirinto…Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-43061125601249599952023-04-29T16:42:00.006+01:002023-06-10T19:28:42.307+01:00A liberdade que nos prendeA humanidade é uma drogada. <br /><div>Viver tornou-se um vício <br />e as pessoas são viciadas nos químicos <br />que crescem nas suas cabeças. <br /><br /></div><div>Viciadas em ter razão, <br />em falar mal do outro, <br />em mentir para parecer bem e melhor. <br />São viciadas no que os outros têm, <br />a incitar o medo e a agarrar-se à inveja. <br />A gerar conflito sem motivo <br />e sem medir as palavras. <br /><br />A vida toxicodependente de alguns <br />tornou-se a dependência de outros. <br />E convencemo-nos uns aos outros <br />que o consumo faz parte da natureza do ser humano. <br />E cada vez que snifamos o medo que nos ostentam, <br />fazemos nascer mais um viciado. <br />E cada vez que o vício aumenta, <br />menos sabemos sobre os telhados que voamos. <br /><br />Esta liberdade disfarçada de evolução <br />só nos faz perder, <div>e nos diminui </div><div>como pessoa e humanidade.</div></div>Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-28762827083321137042023-04-09T20:01:00.004+01:002023-06-10T19:29:13.877+01:00Almost thereI feel i'm almost there. <br />I always feeling that... <br /><br />I'm always feeling in this square, <br />closed inside a ferris wheel to repair. <br />with half of the world in a chair <br />to stare my despaire... <br /><br />You are aware this nightmare? <br /><br />Do you feel the same don't you? <br />When the spining never ends <br />and the stops don't extend. <br />Why don't we choose the backend <br />and stay content? <br /><br />I even decide change my mind <br />into a rollercoaster <br />hoping that being wild <br />put me closer. <br /><br />I'm just rising to fall in alcohol... <br />and I still don't get there... <br /><br />You still think the time is fair? <br />I'm tired of making this a prayer.Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-43201505825915674992023-03-31T17:00:00.003+01:002023-06-10T19:32:23.394+01:00Evolui-tePorque vivemos na desesperança <br />quando temos todas as possibilidades à nossa disposição. <br />Tal e qual quando fomos crianças. <br />Porque passamos da inocência para a insegurança <br />e acreditamos que o mundo era somente uma composição. <br />Porque continuamos a escolher o que nos deita para baixo, <div>para sermos capazes de levantar o queixo. </div><div><br /></div><div>Encharcamo-nos na penúria </div><div>como se não fosse a vida que estivesse em causa, </div><div>não nos levamos a lugar nenhum </div><div>e os anos passam numa eterna pausa. </div><div><br /></div><div>Vivemos na dormência da luxúria, </div><div>neste lugar-comum, </div><div>onde enfiamos a evolução dentro de um calvário </div><div>para deixarmos morrer o pequeno visionário. </div><div><br /></div><div>Perdemo-nos neste ciclo vicioso <div>que estimamos precisar, <br />mas só nos faz desligar. </div><div><br /></div><div>Sofre só o que tiveres de viver, <br />e deixa de chorar o desdém de seres o que não podes ter. <br />Dá-te a mão mais vezes e urge! <br />Urge porque não podes mais ficar para depois, <br />Tu és o agora… <br />Portanto sê-lo já hoje!</div></div>Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-91043601288238589312023-03-16T15:31:00.004+00:002023-06-10T19:33:27.876+01:00A Cólera do séculoO pior de nós, pessoas, é sermo-lo, neste tempo desenfreado, <br />Fantasmas de ideias que não acreditamos vencer. <br />O pior mal da humanidade não é o medo de tentar, <br />O que a assombra é o medo de tentar sem conseguir. <br />Deixámos de acreditar em possibilidades <br />Então, tentamos já com a ideia de desistir assim que possível. <br />As escolhas da humanidade são um refúgio às suas próprias ações <br />Não somos capazes de gerir a hipótese de nos arremessarem <br />A indelicadeza ensurdecedora do verbo falhar na segunda pessoa do singular, <br />Então preferimos não dar margem à critica ridícula <br />– Mas nem tentaste! <br />É assim que a vida nos puxa e nos acorda aos empurrões. <br />No exato instante em que caímos na nossa própria pequenez <br />E percebemos que não somos nem sabemos nada. <br />Por acreditarmos que é mais fácil acreditar que podemos iludir os outros <br />do que acreditar nas nossas próprias capacidades. <br />Olhamos para o lado na esperança de fugir <div>mas a desilusão aparece e só nos inunda. <br />Os fantasmas que observamos nos outros, <br />(de longe…) <br />São os mesmos que nos atormentam e perseguem <br />(bem de perto…). <br />Mas insistimos continuamente e vivemos na nossa própria sombra, <br />à espera de que o sol mude de direção <br />e possamos ser a luz sem nos mudarmos. </div><div>Sem acreditarmos.</div>Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-43920285604918732162023-02-25T21:21:00.008+00:002023-06-10T19:35:51.749+01:00AlienationThe sun arrived <br />Or at least i thought and mostly believed he had. <br /><br />But time to time the clouds cover the light, <br />The energy goes off instantly <br />and i feel in myself again. <br />Tearing the lungs, <br />creating lagoons around the eyes <br />while relief settles as a lying body, <br />that ends anxiety to be confronted with reality. <br /><br />The anxiety how makes me smile in the day <br />is the same lie how is shouting down <br />along with my ability to feel all the apathy nights. <br /><br />I see light and want sun at all cost, <br />but i'm a storm inside. <br />I speak like i'm brave and i don´t have fears, <br />but insecurity runs through my veins like blood. <br />I'm transperant (sometimes too much), <br />yet no one sees how much my brain screams. <br /><br />It's so loud... <br />louder and louder, <br />even louder every minute i think. <br /><br />And the sun returns again to warm the naked soul, <br />then... <br />fades away til winter crash the gold. <br />The cycle never ends, <br />it just increases in the between <br />so we live learning how to live ourselves in the middle of the madness.Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-74837436722185766342022-10-29T19:38:00.002+01:002023-06-10T19:36:49.098+01:00s-wayThe overwhelming feeling of <div>thinking about everyday life is a </div><div>constant routine lying in bed, </div><div>swallowing depression. </div><div><br /></div><div>I can't control the genuine need </div><div>for real feelings that don't just </div><div>seem to satisfy my own imagination. </div><div><br /></div><div>Because I'm obsessed with </div><div>letting go of those who don't deserve it. </div><div>I can't change anymore </div><div>I've been ready for a long time </div><div>to leave this vicious life, </div><div>but it never works. </div><div><br /></div><div>I always struggle with faith </div><div>because my body is on the </div><div>brink of a thunderous realization all the time. </div><div>This indecisive movement </div><div>messes with my mind. </div><div>And I'm desperate to jump. </div><div>Nothing exists in this world, </div><div>even I am just dust in a plain feeling. </div><div><br /></div><div>The right place is here, </div><div>at the front entrance, </div><div>but I have to take another step </div><div>until I can hold the air in my arms. </div><div>I want it so bad I can't move. </div><div>But my mind is racing to myself. </div><div>Feels like shit, does that mean I'm a fool? </div><div>Or I'm losing? </div><div><br /></div><div>Why can't I get out of my own way? </div><div>Like a stone in the way, quiet and cold, </div><div>full of fragments inside. </div><div><br /></div><div>I'm grieving my pieces.</div>Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-61749130145043409762022-03-08T16:15:00.006+00:002023-06-10T19:37:28.720+01:00Tentativas Rebuscadas<div style="text-align: left;">E por vezes ela não encontra o que procura <br />então escreve o que lhe atormenta <br />na dúvida e na tentativa de sentir <br />além do que lhe serve o comum. </div><div style="text-align: left;"><br />As palavras embebedam-na de uma catarse <br />e desesperada em suspiros desperdiçados <br />vive dentro de sonhos que não são dela. </div><div style="text-align: left;"><br />De peito cunhado de rascunhos, <br />que a fazem viver o que não quer para si <br />e numa necessidade constante de respostas <br />luta contra uma sociedade <br />preconcebida de termos e ideologias <br />que lhe provocam alergia anafilática. </div><div style="text-align: left;"><br />As questões crescem que nem ervas daninhas <br />no consciente perplexo e asfixiado sucumbido da pressão <br />e dentro dela vivesse uma gritaria fonética. </div><div style="text-align: left;"><br />Mas ela continua a acreditar, <br />acredita na esperança de si própria.</div>Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-90389420053983086142020-08-04T09:00:00.015+01:002023-02-04T17:52:49.005+00:00A dú(vida) é a resposta<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8QxZzeVAxitHPyATFKpvn4sY4pNxGftAF47RC-aE7kTFKKNxUCIw3uH8zpYPTvuK2_fi3xKtBGq2jW4Zr0kttyIJ0RQtJ9xhxdLLYwyzSe4pF3f5hnyivg_GBlVSTvasqsNaRZ6oQ5WQ/s2048/2018-08-16+04.55.57+1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1365" data-original-width="2048" height="534" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8QxZzeVAxitHPyATFKpvn4sY4pNxGftAF47RC-aE7kTFKKNxUCIw3uH8zpYPTvuK2_fi3xKtBGq2jW4Zr0kttyIJ0RQtJ9xhxdLLYwyzSe4pF3f5hnyivg_GBlVSTvasqsNaRZ6oQ5WQ/w800-h534/2018-08-16+04.55.57+1.jpg" width="800" /></a></div>
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Quando o poder de viver a vida com que tanto se sonha é roubado para cobrir as necessidades das obrigações como membro da humanidade, de família e pessoa consciente da sua moralidade, ganha-se uma certa repulsa à vida. O medo de dar um passo maior que a perna e sentir a adrenalina de escapar uns segundos da rotina, já não é mais uma ânsia. Os medos desaparecem na corrida dos anos que passam sem que a reforma, de um posto que não se escolhe, chegue. E a indiferença vai crescendo das cinzas da inocência.</div>
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Se algum dia tiverem o atrevimento de perguntar: o que queres da vida? Sê descarado o suficiente para responder que a vida é que quer algo de ti e ainda não teve a coragem de o mostrar. E pouco mais. Porque ao fim de tantas tentativas apenas a resposta que esperamos será o único cenário significante. O antes será apenas um conjunto de experiências que nos guiam, continuamente, à resposta que a vida nos deve mas em nada se esmera em mostrar. A ironia continuará a ser uma prevalência na humanidade enquanto permitirmos que nos cegue. Demonstra-se penoso ver o quanto não somos capazes de ver o que está diante dos nossos olhos, em grande parte do tempo, que nos tornámos na espécie entendida em argumentação funesta. Não sei se a psicologia tem um nome para esta condição para que a possa categorizar como um distúrbio. Mas deveria. Porque todas estas dúvidas geram questões desconcertantes que terminam sempre em "porquê?" ou "será desta vez?".</div>
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Todos procuramos respostas às nossas carências mentais, uns mais que outros. Todos temos questões que gostaríamos de ver respondidas ou que tivessem sido feitas no momento oportuno. Todos temos dúvidas que preferíamos que fossem antes certezas. Mas vivemos mesmo assim na dúvida desconfortável porque a certeza, por vezes, é ridícula. Questionamo-nos tantas vezes o porquê da vida, mas no fundo a única explicação que procuramos em todas as perguntas retóricas é o significado da nossa essência. Quem sou eu? Apenas desejamos conhecer-nos com a mesma facilidade com que decoramos os gostos, necessidades, qualidades, afeições e limitações de alguém. Contudo se fosse assim tão fácil o que seria feito dos nossos pensamentos? Não são as respostas que importam mas as perguntas. O mistério está na dúvida, porque quanto maior o número delas mais próximos vamos ficando da natureza substancial do nosso ser. </div>
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<br /></div><div style="text-align: justify;">Apesar de a dúvida ser complexa e incompreendida é a insatisfação que mais nos incomoda. É a este nível que deixamos que as veias comecem a fervelhar o sangue que nos liberta os pulmões e nos tornamos Álvaro de Campos dos tempos modernos, como se o estado de espírito andasse na corda bamba entre a fase decadentista e a intimista. Este ênfase à desilusão que permanece e parece não querer terminar leva-nos constantemente à mesma resposta insolente - Não Sei! E esta fadiga que a vida assume como nossa é o prémio que se tornou mais um problema que um consolo. Como chegar ao próprio corpo se não temos energia para lá chegar? Como sabemos quem é o nosso eu se não temos a capacidade de descodificar o que sentimos, cada vez que nos sentimos?</div>
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Por vezes damos por nós a perguntarmo-nos o que teria sido de nós se tivéssemos tido a liberdade emocional e moral de podermos viver os nossos sonhos para além do hipotético. Não conseguimos evitar de pensar nos cenários que não tivemos oportunidade de viver, nas experiências que podíamos ter tido, as asneiras que podíamos ter cometido e aprendido. Ainda assim, não somos capazes de ignorar que os valores sob os quais nos tentamos descobrir são fruto da vida que não escolhemos, nem sonhámos. </div>
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<div style="text-align: justify;">E todos os dias vamos adormecer a sonhar com a vida que queremos para amanhecer fortalecidos na realidade que nos foi reservada por algum motivo.</div>
Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-10583863442582725612020-05-08T10:00:00.009+01:002022-11-16T17:10:29.533+00:00As cartas de amor de Ofélia: capítulo 2<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLOXi2oZV0cSjaDQqm1Bv5kPOwgNPbJT6ZNYoul0MVK-djyiLr4BJFx5imKY8qbVLU3jsJEvvClLdq5bPfQ1wC41OI3XlKha8dfwKkBcUMY6Q_gtfRYbVB2ZJxZYZD6WI_HHY8byiHSjo/s1600/2018-08-16+04.54.00+1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLOXi2oZV0cSjaDQqm1Bv5kPOwgNPbJT6ZNYoul0MVK-djyiLr4BJFx5imKY8qbVLU3jsJEvvClLdq5bPfQ1wC41OI3XlKha8dfwKkBcUMY6Q_gtfRYbVB2ZJxZYZD6WI_HHY8byiHSjo/s1600/2018-08-16+04.54.00+1.jpg" /></a></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: center;"><a href="https://incontro-verso.blogspot.com/2018/01/as-cartas-de-amor-de-ofelia-capitulo-1_25.html">capítulo 1</a></div><div style="text-align: center;"><br /></div>
Logo depois de ter ajudado a arrumar a cozinha juntamente com a sua irmã e a sua mãe, enquanto o seu pai fumava um charuto e bebia um cálice de licor na sala de estar, fugiu para o quarto. Ao chegar trancou a porta e dirigiu-se diretamente para a janela a correr, na esperança de ver Mauro a passar por mero acaso ou com o propósito de a procurar visto que lhe tinha dito onde morava propositadamente. Nunca o tivera visto por lá, o que a fazia pensar que provavelmente estaria apenas de passagem como todos os outros. Até porque os poucos de turistas que aquela pequena aldeia costuma acolher, de longe a longe, era por engano ou curiosidade. Mas acabava sempre por ser uma surpresa das boas para quem a visitava. Por norma os forasteiros procuravam por indicações para chegarem à cidade vizinha, mas até ali não estavam perdidos. Perdidos ficavam quando se deixavam levar pela energia da imensidão das paisagens verdejantes, quando se deixavam cativar pela ruas estreitas e pelas praças não tão grandes assim, mas brutalmente rurais. A surpresa era aconchegante e acabavam por ficar mais tempo do que pretendiam porque não eram capazes de não se render a cenários que mais pareciam ter saído de um filme. Mas era apenas a realidade banal de todos os dias de Ofélia e todos os que lá viviam desde sempre. E apesar do movimento ser quase nenhum, as notícias espalhavam-se rápido porque todos se conheciam uns aos outros. O que a levava a concluir que não faltava muito até que a notícia de existir alguém novo na aldeia se espelhar e bater à porta de sua casa. Até porque a sua vizinha não era capaz de se conter, a sua língua era pior que um jornal de notícias, não conhece-se ela a D. Alice. Mas naquele momento até que nem se importaria de a ter que ouvir umas belas duas horas a tagarelar sobre a vida de toda a vila só para saber o que pretendia. Porque nesse exacto momento iria ter resposta a todas as suas questões. Enquanto esperava decidiu sentar-se no parapeito da janela do seu quarto a ler e a sonhar de olhos abertos. </div>
<div style="text-align: justify;">
Era quase hora do chá das cinco quando tocaram à campainha. Ofélia sai sobressaltada do parapeito da janela, quase a voar pelas escadas a baixo até à porta de entrada, porque àquela hora só podia ser a D. Alice com as fofocas frescas que corriam pela terrinha. Contudo para seu espanto a cara que viu não lhe era totalmente conhecida mas era-lhe familiar. Encaram-se até que Mauro avançou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Não sabia se iria bater à porta certa, mas valeu o risco.</b> - Ela anuiu com a cabeça e lançou um sorriso fechado e meigo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Desculpe estar a incomodá-la a estas horas, provavelmente está ocupada com as suas tarefas, mas horas antes, quando nos cruzámos e foi muito gentil comigo, deixou cair o seu lenço pelo caminho e vinha devolvê-lo.</b> - Estica o braço gentilmente para lho dar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;"><b>–</b></span><b> Muito grata.</b> - Pega no seu lenço ao agradecer e aconchega-o contra o seu peito.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Era uma pena perder algo que estima tanto.</b> - Ela sorri-lhe e ele convenientemente começa a afastar-se lentamente com o olhar torcido para trás e acena-lhe um adeus prolongado antes de voltar a sua face para a frente. Despediram-se sem que fossem necessárias mais palavras. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim que fecha a porta ouve a mãe aos gritos da cozinha que lhe pergunta:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Ofélia? Foste tu que abriste a porta?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Sim mãe...</b> - Confirma em tom insignificante como se já não soubesse que tinha sido ela. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Quem era?</b> - Questiona-lhe prontamente assim que sai da cozinha a limpar as mãos molhadas ao pano que trazia pendurado no avental e fica a encará-la para não lhe dar hipótese de mentir. Ainda assim não foi suficiente para a contrair à verdade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Não sei mãe, não conhecia... Queria só algumas informações.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> E tu o que é que disseste?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Olha... disse-lhe que fosse à mercearia do Sr. Alberto ali ao final da rua que talvez lá o pudessem ajudar.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Fizeste bem filha, agora anda aqui ajudar a mãe a servir o chá.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Depois daquela mentira, que não era nada dela, mas contar a verdade à sua mãe estava fora de questão, até porque ainda não sabia ao certo em que problemas se estava a meter, foi preparar a mesa da sala de estar para o chá. E fê-lo primeiro porque não podia ser desagradável com sua mãe e negar-lhe a ajuda que precisava. E em segundo porque deixou de navegar na sua imaginação cheia de possibilidades aliciantes e caiu em si. A verdade é que não sabia quem ele era, nem de onde vinha, se iria ficar ou se estava apenas de passagem, se tinha objetivos de vida tão altos quantos os seus ou se estava a sentir a mesma energia que ela, apesar de achar que estava. Ela não sabia nada sobre ele, além do que conseguia ver e do pouco que pôde testemunhar naquele dia. E isso era um problema. Aparentemente ele era gentil e cavalheiro e bem parecido, o que o tornava ainda mais intrigante. Era fácil de cair na tentação de gostar da possibilidade de ter alguém ao seu lado com essas características e apesar de Ofélia ser romântica por devoção, não romantizava a vida por saber o quão perigoso poderia ser confundir a sua imaginação com a realidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Já terminei de preparar a sala, precisas de ajuda em mais alguma coisa mãe?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Sim! Leva a bandeja que está em cima da bancada para o centro da mesa da sala, mas cuidado...</b> - Diz sem tirar os olhos do que estava a fazer, completamente desorientada e sem mãos a medir nas tarefas que parecia querer terminar todas em simultâneo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Porque é que vamos utilizar a bandeja de prata? Qual é a ocasião especial?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Algo me diz que vamos ter visitas e boas notícias.</b> - Ofélia fica meio embasbacada e estática receosa que a mãe tenha percebido que lhe tinha mentido. Alzira, sua mãe, vira-se para a filha ao detectar que não estava a fazer o que lhe tinha pedido e diz-lhe de braços cruzados: <b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Mexe-te Ofélia e faz o que te pedi por amor a Deus!</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Enquanto Ofélia fazia a sua tarefa a mãe voltou-se para a bancada da cozinha para preparar uns biscoitos que iam acompanhar o chá. Juntou os ingredientes todos numa taça de uma só vez e ao começar a misturar lembrou-se que não tinha posto ovos. Nesse exacto momento Ofélia regressa novamente à cozinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Chega-me três ovos.</b> - Exige prontamente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Queres que mexa para ficar bem misturado?</b> - Parte a cascas dos ovos na beira da taça e despeja-os para dentro dela sincronicamente com a sua pergunta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Não é preciso filha, mas obrigada! Mas podes ligar o forno à temperatura de 180 graus para pré aquecer e depois vai pentear esse cabelo que está todo irrisado.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao subir as escadas para se ir arranjar para as supostas visitas misteriosas escuta uma voz ao longe que dita:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Diz à tua irmã também para se arranjar e para vestir o vestido verde de cerimónia.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span face="poppins, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 10.5px; letter-spacing: 0.7px;">–</span> Está bem mãe!</b> - Grita-lhe a meio da escada enquanto revira o olhos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
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***</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
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Não sentia ciúmes, mas tinha perfeita noção que Irene era a filha favorita lá de casa e por vezes algumas ações por parte de seus progenitores conseguiam ser bastante evidentes. E sentia-se meio excluída, apesar de, lá no fundo, saber e acreditar que também gostavam dela, não da mesma forma como gostavam da sua irmã, mas gostavam à sua maneira.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ofélia não tinha amigos e estava quase sempre por casa entretida com os seus livros e a sua escrita. A sua única amiga e melhor aliada era a sua imaginação. Perdê-la e achá-la era encontrá-la deitada na relva do jardim da frente da casa calada por horas de olhos fechados a inspirar o ar que a alimentava. Os pais acomodaram-se ao silêncio da sua presença que nunca se preocupavam em saber por onde andava. Mas quem passava em frente a sua casa e a via ali achava-a esquisita e havia quem a chamava de maluca. Os pais nunca entenderam o porquê de todos olharem para Ofélia de forma diferente, mas também nunca deram importância ao assunto. Eles sabiam de certo que ela era dissemelhante da sua irmã em vários aspetos e isso já bastava porque não lhes agradava. No entanto ela era apenas solitária. O que as pessoas não sabiam é que viajar dentro da sua imaginação era a única maneira de não se sentir sozinha. Ela sentia-se feliz e divertia-se cada vez que mergulhava na natureza e inventava histórias sem fim na sua cabeça. Imaginava-as como se estivesse a assistir um filme no cinema, sentia através delas o que não lhe era possível sentir e viver de outra forma. </div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De repente a campainha tocou e a família Magalhães reuniu-se, antes de abrirem a porta, à entrada quase como em pose para uma fotografia em família.</div>
Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-70420285751294339232020-04-21T19:08:00.003+01:002023-06-10T19:38:13.151+01:00Ela só precisaEla é inibida em sociedade pela sua vergonha, <br />
Mas ela não sabe viver sem a companhia de alguém. <br />
Ela é calada, <br />
Mas foi feita de boas conversas. <br />
Ela sabe estar sozinha na sua própria presença, <br />
Mas ela só quer sentir a presença de alguém que lhe dê dois dedos de conversa por dia. <br />
Ela não é carente nem teve uma infância pouco simpática, <br />
Mas ela precisa de ouvir umas palavras bonitas de vez em quando. <br />
Ela é muita coisa <br />
Mas também quer outras tantas. <br />
<br />
Ela aprendeu que aquilo que é não limita aquilo que precisa. <br />
E ela só precisa de ser, <br />
Mas o ego dela precisa de ter. <br />
<br />
E um ego cheio de amor <br />
É um ego que sente tanto quanto ela.Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-52381704844404151642019-12-26T21:00:00.003+00:002023-06-10T19:38:43.776+01:00Si<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEil6rTiREiaMd1ze3OAsLyV1FLAvpYeX2AIRF56rA4KffE0LowzBLOiR-3YGapWlJZ1aNn5D9bvOnpM-8ZVY-ofX7vRXfEO1bcJmwbWoUpWD0h4eF32LLrFdBQVaswMWGSTJgJL4pKv83E/s1600/79741036_3059170284101611_2661577334817030144_n.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1281" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEil6rTiREiaMd1ze3OAsLyV1FLAvpYeX2AIRF56rA4KffE0LowzBLOiR-3YGapWlJZ1aNn5D9bvOnpM-8ZVY-ofX7vRXfEO1bcJmwbWoUpWD0h4eF32LLrFdBQVaswMWGSTJgJL4pKv83E/s1600/79741036_3059170284101611_2661577334817030144_n.jpg" /></a></div>
<div>
<br /></div>
Viver a aprender um pouco mais sobre quem sou, <br />
<div>
Viver a melhorar-me com cada erro. </div>
<div>
Viver e aceitar que viver é uma mudança constante. </div>
<div>
Viver na mudança porque a vida é uma metamorfose bonita. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Viver.</div>
Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-48041080771183512452019-11-17T10:00:00.006+00:002023-02-04T18:03:07.662+00:00A dualidade de se ser<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcXBkcLzJPmx2jnAahahJ4puqoUsPnVLYsqgWbeW0ALkyuGRRcXOadW4vZNgmoZt4Uaq6oeXsh4MRWOVT5PZ8iKH6PNeARe6B2VE9WmZJDg6_1pkiGSkF8q7kL0OOmIUkqbw1myAm2jsU/s1600/2019-01-10+01.39.52+1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcXBkcLzJPmx2jnAahahJ4puqoUsPnVLYsqgWbeW0ALkyuGRRcXOadW4vZNgmoZt4Uaq6oeXsh4MRWOVT5PZ8iKH6PNeARe6B2VE9WmZJDg6_1pkiGSkF8q7kL0OOmIUkqbw1myAm2jsU/s1600/2019-01-10+01.39.52+1.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Abrandar o tempo devia ser um poder humano tão natural como a capacidade inevitável de pensar a todo o instante. Seria como prolongar o impactante lado da vida e o fútil também não seria excepção. Mas apenas por dentro do nosso olhar como se fosse uma filmagem em câmara lenta gravada no íntimo da nossa alma. O olhar via-se sereno, sem que nada o conseguisse interromper da fixação que imponha em si, mergulhado num mundo paralelo que estimava juntamente com a vivacidade que se estancia do ritmo do quotidiano. Um feito de calmaria, atenção ao pormenor, alegrias que acalmam e dores que ensinam. Enquanto do lado de cá, onde o olhar chega da forma como o conhecemos, apenas nos esperam maratonas que nos fazem perder noção do tempo a passar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Seria como viver memórias instantâneas e momentâneas, os sentimentos seriam tão intensos que seriamos capazes de os sentir até ao âmago do nosso estômago. Em simultâneo tudo se via e vivia de igual forma, como se nada fosse. Seria como se os sentimentos se transformassem em imagens que passam por flashs. E se dermos conta seriamos mundos com dois mundos paralelos dentro do nosso próprio globo. Se os pensamentos chegassem a ser a matriz física do cérebro como a nossa imaginação é para os nossos olhos, a objetificação dos sentimentos seria a banalização do quotidiano contemporâneo para além do tempo em que se reconheceria como moda. Poder viver a ver com olhos interiores teria tanto de bom como de mau, mas certo é que seríamos pessoas mais tolerantes com o outro.</div>
Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-65265095087731311092019-06-23T10:30:00.002+01:002023-06-10T19:39:40.640+01:00Ensaios de amor<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVKlpQibJYO11Xdv0-vyGVnPIy5bx4L3gIHwARqHrdxCmR7EcjEhq7xaqCKK-MNY2Lb3yAHCG4BhZlLS7LLGs5eZbL1H1IGk88OLQ-73B3BH0a34gb2Qjqmu66BQ2i2sFJj8BvHDOnXG8/s1600/2018-03-18+03.22.25+1.jpg" /></div>
<br />
Existe magia em todo o lado <br />
e é possível ser vista por quem quiser. <br />
Só não acontece em todas as pessoas <br />
ao mesmo tempo. <br />
<br />
É preciso acreditar! <br />
<br />
Não são apenas truques de ilusão, <br />
como estamos tão habituados que seja. <br />
Também pode ser real ou físico em simultâneo. <br />
Palpável ou imaginária, <br />
o mais importante para a sentir, <br />
como se fosse um abraço casa <br />
é ter fé na sua existência <br />
(seja em alguém a cada segundo <br />
ou em cada passo que nos cruza). <br />
E num desses dias o sortudo serás tu ou até eu. <br />
O dia não é certo mas é certo que ele vem. <br />
<br />
Mas... <br />
Quando chegares, <br />
Não me leves a conhecer outros lugares. <br />
Leva-me a ver a tua casa, <br />
a conhecer o teu bairro, <br />
e a visitar a tua família. <br />
(Ou a recordar para não esquecer). <br />
Chega-me saber quem eras antes de mim. <br />
O que vier depois será música de fundo a alegrar os meus dias. <br />
Porque a tua magia será sempre a tua história.Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-75833792148003029382019-04-09T10:30:00.002+01:002023-06-10T19:40:26.575+01:00Insónias<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBZq45skbgcOvlHT2NbR0M7-NkMEbeTsKxip2MXnpVVgG1JDd0tYOODSQpzBFfNhoU0JoVP49We9YN-Xm6SYfXe9s6EIr-qILwp9sdUyhdCoAuDSLpegsJLup-rfMsrh5oIl1_sdH3ZgU/s1600/2017-03-24+09.00.23+1.jpg" /></div>
<br />
Insónias são tão chatas como belas, <br />
tão dolorosas como tempo. <br />
Vejo-as chegar ao baterem-me à porta <br />
e suspiro apenas. <br />
<br />
O capricho torna-se novo a cada noite, <br />
e o tempo vazio torna-se útil à necessidade. <br />
Não vejo como o negar, <br />
dormir acalma a alma <br />
tanto como abolir com a insatisfação instalada. <br />
E as insónias são o melhor remédio para as minhas preocupações. <br />
<br />
As insónias tornaram-se na rotina mais repetida <br />
e a minha sanidade mental. <br />
Vivo delas como se o tempo estivesse para acabar <br />
porque o mistério da noite clarifica as incertezas que vêm de dia. <br />
<br />
A luz fortifica a pessoa que sou, <br />
mas a noite alimenta a alma que vivo. <br />
<br />
Sou da noite pelas estrelas e pelas insónias. <br />
Pela lucidez que me recolhe <br />
na estranheza que não vê, <br />
mas que me acolhe como sua filha.Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-2248396666306588262019-03-26T15:47:00.002+00:002023-06-10T19:41:20.132+01:00Apaziguar o ego<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQZosTAdi_4KF3tyc8tj336NFvze8xnfAUN0CdIgotlVBBAzEsqh8xvXFMVAX-nhK4Q4-BpHwRk0g_Ld_CsRCyxxY4PGt4JnnC3neg0fCJTcQv9ARrhBOQRHRH0GOfmYd5FIaFECB7jaE/s1600/2017-03-10+07.10.54+1.jpg" /></div>
<br />
Não gosto de funerais, <br />
não é que a morte me faça espécie, <br />
muito pelo contrário <br />
nunca fui de grandes medos. <br />Mas se há ocasião que não me move são funerais, <br />
não é a cerimónia que é descabida <br />
Ou algo que se possa categorizar, <br />
por norma são as pessoas <br />
que me lembram o motivo pelo qual evito ir. <br />
<br />
Há sempre quem chore a falta de alguém, <br />
quem a sinta e quem a negue. <br />
Há quem passe de visita <br />
e deixe flores. <br />
Mas também há quem queira fazer-se mostrar <br />
para mais tarde poder cobrar. <br />
Há quem se destine por respeito à família <br />
e aos amigos, <br />
É o que dizem ou será o peso da obrigação a empurrar? <br />
<br />
Enquanto há quem celebre o seu propósito, <br />
há quem ache que a cerimónia é para os vivos <br />
para apaziguar o próprio ego. <br />
Há quem se limite a ver do lado de fora <br />
enquanto falam da vida que levou <br />
e muitos nem o nome lhe sabem. <br />
Há ainda quem tema não ter nada para lembrar amanhã, <br />
e quem amanhã nem se lembre da sua existência. <br />
<br />
Não gosto de funerais <br />
porque ir a funerais é um ato de egoísmo. <br />
As pessoas não vão com o propósito de demonstrar o amor que lhe têm, <br />
vão reclamar o amor que deixaram de poder receber. <br />
Se reconhecer fosse a sorte que puderam ter, <br />
talvez não evitasse ir a funerais.Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-70852025599533510562018-07-12T14:00:00.004+01:002022-11-16T17:01:16.775+00:00As palavras nem sempre são suficientes<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHUtjyNiCUTReO1CyHWkzIKso0RLPoilZ6sGwD4n23dalMu21d7Gsxr5gxyEjV7aedIwHLfgOFgr2qZvHKFD-Gt00h4DycHCO9TpkX084KJ-UhZP3bt39xcvB2s3yBnvTicV7OO9HyGj8/s1600/IMG_1083.jpg" /></div>
<br />
As palavras escapam e por vezes enganam. E eu que nunca fui de muitas palavras, embora viva de conversas em folhas brancas, esferográfica na alma e sentimentos à flor da pele, o encanto das palavras sempre me conseguiu dar a volta à cabeça. Grito. E peço que gritem também. Comigo ou sozinhos. Mas Gritem. Atropelem os sentidos e a alma, sem deixar vestígios de tentativas falhadas, de bocas trémulas que sem saberem o que dizem vão aclamando aos ventos o rumo certo debruçado sob os medos que marcam a alma pejada de nós bastardos. E respirem o sufoco do ar poluído pelas vozes arrastadas de uma humanidade saturada do vazio da impossibilidade de conjugar o verbo "ser" e "poder", em livre arbítrio. E gritem novamente.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
A luz cega-nos, a escuridão da noite ainda mais. E nós deixamos que nos controlem as capacidades, os desejos e as virtudes. Gritem. Gritem contra isso, não deixem que vos amarrem as mãos, nem vos atem os braços. Não deixem que vos calem com falácias embebidas em bolas de neve como na política. E tentem mesmo que as consequências doem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">Mesmo em tentativas de encontrar o meu pulso nos batimentos que estremecem a minha lucidez, cerro as mãos em volta da esferográfica para que não me vejam de pensamentos cheios. E escrevo rascunhos sórdidos sobre a plenitude da vida e o desconhecido. A consciência foge-me por dias e tende a chegar por humildes noites. Não insisto em águas calmas quando ao meu redor as pessoas correm atrapalhadas por vidas pouco demoradas, abafadas nas suas hipocrisias mínimas, e entre esperas e vindas, de tudo o que não espero, de dores e amores, continuo a escrever sobre os oceanos e o universo paralelo. De olhos cansados, sentada no chão esbaforida de ver futuros mortos à nascença, coloco no caderno um ponto e uma vírgula dia sim, dia não. Se todos soubéssemos o quanto as palavras correm brutas e cruas por todos as quinas, a liberdade da vida estaria na conjugação do verbo "abraçar", "incluir" e "criar", ao invés de se resumir ao verbo "tentar".</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-86981789519423191602018-07-03T09:00:00.004+01:002023-02-04T18:30:47.964+00:00Somos todos átomos num acelerador de partículas<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGZaUFmlA8V6Hm6T9obrRWuF9liaSmtbO58No-1W2OLLDnY7DVKao2lo4Qv-YJ2EiUUQONT99K2vSEl3Pfqp80OYczk4yTGoXE4coj5-p5aXxM40k75fz0ny1X7vFwL46LcgLZxlqQUR4/s1600/2018-03-18+03.20.52+1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGZaUFmlA8V6Hm6T9obrRWuF9liaSmtbO58No-1W2OLLDnY7DVKao2lo4Qv-YJ2EiUUQONT99K2vSEl3Pfqp80OYczk4yTGoXE4coj5-p5aXxM40k75fz0ny1X7vFwL46LcgLZxlqQUR4/s1600/2018-03-18+03.20.52+1.jpg" /></a></div>
<br />
Somos pensamentos difusos no silêncio da escuridão numa vida de refugiados.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tudo nos transcende e tudo nos foge da razão, mas dizem por aí que os ventos trazem a nossa sorte num dia qualquer quando permitirmos acolher a esperança na nossa alma. Não se pode acolher amor ou esperança quando não se consegue sequer entrar dentro do próprio corpo e ver para além do seu ser em personagem assistente de uma vida cheia de tanto ou de nada. Viver é um vácuo ou um universo cheio de estrelas onde se aposta forte e feio que possa ser cheio de tudo. Ou, no mínimo, devemos a nós próprios, a eventualidade de tentar acreditar que o possa ser, mesmo que seja apenas uma mera possibilidade alienada para justificar o medo que temos de encarar a adrenalina sentida todas as vezes que as peripécias são atingidas por meteoritos. E apesar de fugirmos continuamente a sete pés, a cada vez que colidimos, existe uma sensação incomodativa de que está errado não tentar saborear a sensação do embate. Mas também não é certo. Mas sempre se foge. Mesmo quando nos enfrentamos, há sempre algo a perder, há sempre algo ao que fugir.</div><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Percebemos constantemente que não vivemos na mesma sintonia, mas são os átomos distintos que nos unem numa só harmonia, porque as igualdades dão-nos alegrias, e as particularidades de cada um definem-nos e tornam-nos únicos no planeta. E é quando damos um passo atrás que percebemos que são as nossas diferenças que nos fazem conectar com lugares, pessoas e sentimentos. Que são as nossas desigualdades que nos fazem pessoas mais fortes e lutadoras, são as nossas dissemelhanças que nos oferecem vidas características, que vistas do universo se parecem tão iguais. Somos partículas universais solidificadas na Terra e incompatíveis umas com as outras mas que se transferem de polo para polo na esperança de um dia formar uma partícula estável. A vida muda a cada milésimo de segundo - a instabilidade das energias veem-se ao redor de cada corpo ambíguo que procura o futuro sob as poeiras que se arrastam discretamente pelos ombros e o peso da gravidade que nos puxa para a Terra sem autorização.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tudo nos parece uma questão de oportunidade, mas a vida não dá oportunidades como quem estala os dedos. As oportunidades são construídas com as diferenças que nos deram, com os gostos que descobrimos, com as capacidades com que nos criaram e com a personalidade com que nascemos e aperfeiçoamos. As igualdades pouco nos valem a não ser meia dúzia de temas de conversa com os amigos que as diferenças nos possibilitaram ter. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda assim continuamos a fugir...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Devemos olhar para o outro e procurar mais vezes um pouco de nós, porque são as nossas diferentes energias que permitem a criação de ligações. Propagar o autoconhecimento é permitir viver mais o outro e compreende-lo na diferença da igualdade que somos - a humanidade trás a estabilidade que procuramos a vida inteira.</div>
Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-579881440297413442018-04-02T17:06:00.029+01:002023-02-04T18:35:19.707+00:00A vulnerabilidade de um talvez<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirMr47BXG6XvyWEluxUceFVKqhp5Cwsg1G4nAuaUvH7WsIPT5TAY6prq_3epZApXCndDnxC4L-BqJ6gS1s4tdfC18TbB3vSK_wf3KSpeG-jVuFnu1K2j33UqgG1aVmlCahQjuxK7g89gk/s1600/IMG_1444.jpg" /></div>
<br />
Não sei se quero amar ou se talvez já amo e não consigo admitir que assim o teve de ser por feito do destino. Mas tenho certo que não te quero por enquanto – é egoísmo aparente da minha parte, mas faço-o para segurança tua sem que percebas, porque nem tu próprio sabes o que te sobra nas veias, que te carregam o júbilo da vida que resguardas sem rodeios e preocupações. A tua audácia desmedida transborda-te sem pestanejar duas vezes e preocupa-me a ignorância que aparentas na tua própria inteligência, que não consegues destinar como cais sendo parte do teu ser. Preocupa-me acima de tudo o fracasso que podemos conjugar enquanto nos tentamos completar mutuamente. E se te der um talvez começo na incerteza de um fim que não se vê e um começo que não se compreende. Talvez não se adequa nos teus olhos, mas cobre a minha pele. Pode-te soar estranho, mas a vida é feita de incertezas cobertas de começos abandonados sem sequer serem vistos em palmares de primeira ordem. As incertezas sempre foram o início da humanidade, do amor em volta dos colarinhos e entre o cruzar de mãos, das flores que crescem para fazer sorrir os campos e as mulheres. O talvez sempre será do mais certo, o começo da liberdade e o fim da inocência, a possível sensação de percecionar o amor olhos nos olhos, nos sorrisos e gargalhadas. Talvez não dá sinais, vive no deslumbre de quem o consegue ver para além de um corpo vazio deitado num campo verde, o consegue sentir entre as palavras que não se dizem no ruído do silêncio de um olhar pleno. A vida é feita de incertezas porque ninguém o sabe até que aconteça – talvez é quando menos se espera e não tem de rimar com o objetivo inicial, podem-se mudar trilhos, contextos e emoções. Porque o talvez é o caminho para o certo de cada momento, mas nunca o definitivo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E no meio de toda esta azafama há
sempre quem nos deva e quem nos devolva. É tão (in)certo como um talvez. E quem
nos deve nunca nos chega a devolver o pouco que nos levou. A vida deixa-se
esquecer, mas nós lembramo-la tantas vezes quantas nos lembrarmos – por quantas
dores nos fizeram aborrecer. O vazio fica. Silencioso. Aguarda e espera, mas
sabe que não será mais nada para além de eco. Quem te devolve, dá sempre mais
do que deve, porque sente ser sempre pouco aquilo que dá, devido à incerteza
que vive. Por medo, por achar saber que nunca será suficiente. Mas o desafio é superarmo-nos
cada vez mais a cada dia, ao invés de tentarmos ser melhores que os outros. Ser-se
o melhor de si todos os dias é viver-se sobre os encantos de um talvez que
contrariam um “e se…”.</div>
</div>
Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-21993127997880329512018-03-18T18:48:00.000+00:002023-03-17T02:44:43.806+00:00o despertar da serra da estrela<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4tp2N4YEB7_yVW6sDhXc5mHWO3mJ-HXWbFvsL4KHbQa2rM9Oz20TKmpNDk4WBDDYvLRopboFp-HGkLXvqEJTB7jlNefGDvIRL7mrKyaysvoMs498rKmO4dotI3nJZ4Q6cM3haRM6kZz8/s1600/2018-03-18+03.22.17+1.jpg" /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Abri a janela do carro e abracei o vento, levantei a cabeça e deixei que me levasse para onde bem entendesse. Foi a maior loucura que cometi em tempos, deixar-me entregar sem pensar duas vezes, deixar que a brisa me conduzisse ao caminho que me esperava dali em diante. Confiei-lhe todos os dramas daquele dia e a liberdade foi fluindo de sopro em sopro - era de uns empurrões que precisava e deu-mos, tantos quantos quis. Conseguia sentir a minha mente a voar e a flutuar à volta do meu corpo com a maior das levezas, contradizendo tudo o que ficava, comprimindo todo o aforro entranhado com unhas e dentes ao que sou. O meu corpo facilmente desmaiava e voltava à vida numa esfera de segundos automáticos, estava num completo transe. Não era como se não me sentisse em mim, era exactamente o oposto. Sentia-me viva como nunca me tinha sentido. O frio reanimava-me, mas era o aroma do ar puro que me conquistava.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As crianças brincavam com bolas de neve umas contra as outras, mas o amor que tinham, os sorrisos rasgados que mostravam, as gargalhadas incontroláveis que davam, contagiavam-me obsessivamente. Era genuíno o amor que existia em todos os cantos, a diversão que se derretia contra a roupa de alguém atingido por uma bola de neve, a paz na frescura do ar que se respirava.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cada quilómetro que percorria pela serra, era como se cada tristeza, cada derrota se afogasse pelo caminho e diluía-me os medos. Fui-me perdendo no andamento do tempo e os meus pensamentos ficaram vazios e predispostos a serem ocupados com novos. Mais felizes, mais livres. Estava em casa, na casa que sempre quis viver. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vive-se na correria do tempo todos os dias, menos por aqui.</div>
<div style="text-align: justify;">
Este lugar faz-me sentir mais leve que o vento.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtDDnh1lbQL6zx1a4Z2tkZXUiTvlAl3YQGcHI07PZQ2-9dgpDd1CDt7dp8_cUrd28u0l5yyCS3Jhdopaeck9NHIdV9S4JEJRuC4dpi6tIP5KPBkIeDPWTmxQu_6-vydN8g8k9cP884Bps/s1600/2017-09-01+01.12.38+1.jpg" /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQwHkfTq_mgd-A-FSfvdsNCCco8o2gM0Z00WIIUfE2wHJnQZd8K7uprLM09rBy14O9Zgl5tjaBLCZlOKPVFYUjQ2spLFgoUWL5F9EK4dpRb8_HGvCYCfFa9SGFA1vSqi6tqwsbklr0Fwc/s1600/2018-03-18+03.22.12+1.jpg" /></div>
Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-79617656281481252492018-02-07T14:30:00.002+00:002023-06-10T19:42:14.131+01:00A vida é uma viagem<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPmtWSoCjxC3UIZiO3f-6EKPBEeYWz17b84FUPuY-OUnW1b_X7-f5XKJIaAKnbOc2M4023UKfUXovtoQSRtxlVLlQo1Agu6aQC9fW8SFg06DKyj6xZ-Evqrlo7QDLmr4eLxdEB1rrMhRI/s1600/IMG_20180107_194742.jpg" /></div>
<br />
Não sei quanto a ti <br />
mas não me sossego ao saber que a vida é aqui. <br />
Não pode ser só isto, <br />
eu não acredito que o louvor da existência <br />
seja um mero conhecimento local. <br />
Eu não tenho vida para isto. <br />
Eu não quero vida para isto. <br />
Porque isto eu já conheço, <br />
já tenho na minha origem, <br />
nas histórias de criança <br />
e nos dilemas da adolescência. <br />
Não preciso de tempo por aqui. <br />
Mas por acolá eu vou. <br />
Vem comigo conhecer os novos vizinhos, preencher novos livros, <br />
encher o passaporte de carimbos para mostrar aos netos, aos filhos e aos bisnetos. <br />
Anda comigo correr por aí, gritar no cume de cada montanha. <br />
Vamos viver em cabanas, dormir em sacos de cama, <br />
passar dias de viagem em carruagens, <br />
tomar banho no pacífico ou no índico. <br />
Vamos fazer as malas apenas com as certezas que temos <br />
e com o amor que conhecemos. <br />
Não temos tudo mas não nos falta nada. <br />
Vamos. Um dia regressamos.<br />
<div>
</div>
Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-5041194801657608649.post-58732667113182393562018-02-04T14:14:00.003+00:002023-06-10T19:43:07.123+01:00A chuva no telhado<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiud-UT23dA_pa6Ytw0KBirV4i1yUljPfZrthMT95jcG3n2-CpttAKjCS83ycKxbp-bHQTJ7d5Yy4Jd6_Y3bFY6H5EQu8g1kNNlnsRDZ0av0SHB9k0WcmiwhXNqShNM0IbBusxxN0L-psY/s1600/2017-03-29+07.29.15+1.jpg" /></div>
<br />
Os carros passam. A chuva não pára. <br />
Debruçada na janela <br />
caída sob o céu escuro <br />
encontro-me na plateia assistente ao drama <br />
da minha própria vida. <br />
Neste desassossego que me abate a alma <br />
sinto falta de mais. <br />
Sinto em mim uma depressiva mágoa <br />
por cada estrela que não conto, <br />por cada luar que não aplaudo. <br />
A tristeza de existirem noites que não me encantam <br />
é um desespero que não aguento, <br />
um abraço que não sinto. <br />
Vejo de longe quem sou, onde vou <br />
e o que quero em cada esquina de cada canto. <br />
Vejo o meu passado por detrás da nuvem escura <br />
e sinto uma presença que não conheço. <br />
Mas sempre que tiver o que não conheço, <br />
sempre vou querer mais para além do que vou sabendo. <br />
A cidade não sabe o que vejo nem vê o que sinto. <br />
Não tem espaço para os mortais <br />
nem conhecimento para os vivos. <br />
A cidade não é minha, a cidade não é de ninguém. <br />
O senhor António passou no vermelho, <br />
a multa não tarda e o elogio nunca vem. <br />
<br />
O chá está quente. A preguiça incomoda-me. <br />
A luz ficou acesa. O livro na cabeceira. <br />
O gato veio de mansinho pedir mimo. <br />
E lá fora já não chove.Inês Sucenahttp://www.blogger.com/profile/03508063334494292296noreply@blogger.com5