17/11/2019
A dualidade de se ser
Abrandar o tempo devia ser um poder humano tão natural como a capacidade inevitável de pensar a todo o instante. Seria como prolongar o impactante lado da vida e o fútil também não seria excepção. Mas apenas por dentro do nosso olhar como se fosse uma filmagem em câmara lenta gravada no íntimo da nossa alma. O olhar via-se sereno, sem que nada o conseguisse interromper da fixação que imponha em si, mergulhado num mundo paralelo que estimava juntamente com a vivacidade que se estancia do ritmo do quotidiano. Um feito de calmaria, atenção ao pormenor, alegrias que acalmam e dores que ensinam. Enquanto do lado de cá, onde o olhar chega da forma como o conhecemos, apenas nos esperam maratonas que nos fazem perder noção do tempo a passar.
Seria como viver memórias instantâneas e momentâneas, os sentimentos seriam tão intensos que seriamos capazes de os sentir até ao âmago do nosso estômago. Em simultâneo tudo se via e vivia de igual forma, como se nada fosse. Seria como se os sentimentos se transformassem em imagens que passam por flashs. E se dermos conta seriamos mundos com dois mundos paralelos dentro do nosso próprio globo. Se os pensamentos chegassem a ser a matriz física do cérebro como a nossa imaginação é para os nossos olhos, a objetificação dos sentimentos seria a banalização do quotidiano contemporâneo para além do tempo em que se reconheceria como moda. Poder viver a ver com olhos interiores teria tanto de bom como de mau, mas certo é que seríamos pessoas mais tolerantes com o outro.
23/06/2019
Ensaios de amor
Existe magia em todo o lado
e é possível ser vista por quem quiser.
Só não acontece em todas as pessoas
ao mesmo tempo.
É preciso acreditar!
Não são apenas truques de ilusão,
como estamos tão habituados que seja.
Também pode ser real ou físico em simultâneo.
Palpável ou imaginária,
o mais importante para a sentir,
como se fosse um abraço casa
é ter fé na sua existência
(seja em alguém a cada segundo
ou em cada passo que nos cruza).
E num desses dias o sortudo serás tu ou até eu.
O dia não é certo mas é certo que ele vem.
Mas...
Quando chegares,
Não me leves a conhecer outros lugares.
Leva-me a ver a tua casa,
a conhecer o teu bairro,
e a visitar a tua família.
(Ou a recordar para não esquecer).
Chega-me saber quem eras antes de mim.
O que vier depois será música de fundo a alegrar os meus dias.
Porque a tua magia será sempre a tua história.
09/04/2019
Insónias
Insónias são tão chatas como belas,
tão dolorosas como tempo.
Vejo-as chegar ao baterem-me à porta
e suspiro apenas.
O capricho torna-se novo a cada noite,
e o tempo vazio torna-se útil à necessidade.
Não vejo como o negar,
dormir acalma a alma
tanto como abolir com a insatisfação instalada.
E as insónias são o melhor remédio para as minhas preocupações.
As insónias tornaram-se na rotina mais repetida
e a minha sanidade mental.
Vivo delas como se o tempo estivesse para acabar
porque o mistério da noite clarifica as incertezas que vêm de dia.
A luz fortifica a pessoa que sou,
mas a noite alimenta a alma que vivo.
Sou da noite pelas estrelas e pelas insónias.
Pela lucidez que me recolhe
na estranheza que não vê,
mas que me acolhe como sua filha.
26/03/2019
Apaziguar o ego
Não gosto de funerais,
não é que a morte me faça espécie,
muito pelo contrário
nunca fui de grandes medos.
Mas se há ocasião que não me move são funerais,
não é a cerimónia que é descabida
Ou algo que se possa categorizar,
por norma são as pessoas
que me lembram o motivo pelo qual evito ir.
Há sempre quem chore a falta de alguém,
quem a sinta e quem a negue.
Há quem passe de visita
e deixe flores.
Mas também há quem queira fazer-se mostrar
para mais tarde poder cobrar.
Há quem se destine por respeito à família
e aos amigos,
É o que dizem ou será o peso da obrigação a empurrar?
Enquanto há quem celebre o seu propósito,
há quem ache que a cerimónia é para os vivos
para apaziguar o próprio ego.
Há quem se limite a ver do lado de fora
enquanto falam da vida que levou
e muitos nem o nome lhe sabem.
Há ainda quem tema não ter nada para lembrar amanhã,
e quem amanhã nem se lembre da sua existência.
Não gosto de funerais
porque ir a funerais é um ato de egoísmo.
As pessoas não vão com o propósito de demonstrar o amor que lhe têm,
vão reclamar o amor que deixaram de poder receber.
Se reconhecer fosse a sorte que puderam ter,
talvez não evitasse ir a funerais.
Subscrever:
Mensagens (Atom)