26/03/2019
Apaziguar o ego
Não gosto de funerais,
não é que a morte me faça espécie,
muito pelo contrário
nunca fui de grandes medos.
Mas se há ocasião que não me move são funerais,
não é a cerimónia que é descabida
Ou algo que se possa categorizar,
por norma são as pessoas
que me lembram o motivo pelo qual evito ir.
Há sempre quem chore a falta de alguém,
quem a sinta e quem a negue.
Há quem passe de visita
e deixe flores.
Mas também há quem queira fazer-se mostrar
para mais tarde poder cobrar.
Há quem se destine por respeito à família
e aos amigos,
É o que dizem ou será o peso da obrigação a empurrar?
Enquanto há quem celebre o seu propósito,
há quem ache que a cerimónia é para os vivos
para apaziguar o próprio ego.
Há quem se limite a ver do lado de fora
enquanto falam da vida que levou
e muitos nem o nome lhe sabem.
Há ainda quem tema não ter nada para lembrar amanhã,
e quem amanhã nem se lembre da sua existência.
Não gosto de funerais
porque ir a funerais é um ato de egoísmo.
As pessoas não vão com o propósito de demonstrar o amor que lhe têm,
vão reclamar o amor que deixaram de poder receber.
Se reconhecer fosse a sorte que puderam ter,
talvez não evitasse ir a funerais.
Subscrever:
Mensagens (Atom)