03/07/2018

Somos todos átomos num acelerador de partículas


Somos pensamentos difusos no silêncio da escuridão numa vida de refugiados.

Tudo nos transcende e tudo nos foge da razão, mas dizem por aí que os ventos trazem a nossa sorte num dia qualquer quando permitirmos acolher a esperança na nossa alma. Não se pode acolher amor ou esperança quando não se consegue sequer entrar dentro do próprio corpo e ver para além do seu ser em personagem assistente de uma vida cheia de tanto ou de nada. Viver é um vácuo ou um universo cheio de estrelas onde se aposta forte e feio que possa ser cheio de tudo. Ou, no mínimo, devemos a nós próprios, a eventualidade de tentar acreditar que o possa ser, mesmo que seja apenas uma mera possibilidade alienada para justificar o medo que temos de encarar a adrenalina sentida todas as vezes que as peripécias são atingidas por meteoritos. E apesar de fugirmos continuamente a sete pés, a cada vez que colidimos, existe uma sensação incomodativa de que está errado não tentar saborear a sensação do embate. Mas também não é certo. Mas sempre se foge. Mesmo quando nos enfrentamos, há sempre algo a perder, há sempre algo ao que fugir.

Percebemos constantemente que não vivemos na mesma sintonia, mas são os átomos distintos que nos unem numa só harmonia, porque as igualdades dão-nos alegrias, e as particularidades de cada um definem-nos e tornam-nos únicos no planeta. E é quando damos um passo atrás que percebemos que são as nossas diferenças que nos fazem conectar com lugares, pessoas e sentimentos. Que são as nossas desigualdades que nos fazem pessoas mais fortes e lutadoras, são as nossas dissemelhanças que nos oferecem vidas características, que vistas do universo se parecem tão iguais. Somos partículas universais solidificadas na Terra e incompatíveis umas com as outras mas que se transferem de polo para polo na esperança de um dia formar uma partícula estável. A vida muda a cada milésimo de segundo - a instabilidade das energias veem-se ao redor de cada corpo ambíguo que procura o futuro sob as poeiras que se arrastam discretamente pelos ombros e o peso da gravidade que nos puxa para a Terra sem autorização.

Tudo nos parece uma questão de oportunidade, mas a vida não dá oportunidades como quem estala os dedos. As oportunidades são construídas com as diferenças que nos deram, com os gostos que descobrimos, com as capacidades com que nos criaram e com a personalidade com que nascemos e aperfeiçoamos.  As igualdades pouco nos valem a não ser meia dúzia de temas de conversa com os amigos que as diferenças nos possibilitaram ter. 

Ainda assim continuamos a fugir...

Devemos olhar para o outro e procurar mais vezes um pouco de nós, porque são as nossas diferentes energias que permitem a criação de ligações. Propagar o autoconhecimento é permitir viver mais o outro e compreende-lo na diferença da igualdade que somos - a humanidade trás a estabilidade que procuramos a vida inteira.

3 comentários so far

  1. MEUS DEUS, QUE TEXTO! Eu não consigo sequer encontrar adjetivos que façam justiça a esta publicação. Eu não sei se existem orgasmos literários, mas se existem, foi o que eu tive agora.
    "são as nossas diferentes energias que permitem a criação de ligações", uma frase bonita para inspirar as amizades.
    Beijinhos
    Blog: Life of Cherry

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  2. Damn, deixaste-me a pensar. Obrigada.

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    1. É o melhor elogio que me podem fazer, obrigada de coração!

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