Abri a janela do carro e abracei o vento, levantei a cabeça e deixei que me levasse para onde bem entendesse. Foi a maior loucura que cometi em tempos, deixar-me entregar sem pensar duas vezes, deixar que a brisa me conduzisse ao caminho que me esperava dali em diante. Confiei-lhe todos os dramas daquele dia e a liberdade foi fluindo de sopro em sopro - era de uns empurrões que precisava e deu-mos, tantos quantos quis. Conseguia sentir a minha mente a voar e a flutuar à volta do meu corpo com a maior das levezas, contradizendo tudo o que ficava, comprimindo todo o aforro entranhado com unhas e dentes ao que sou. O meu corpo facilmente desmaiava e voltava à vida numa esfera de segundos automáticos, estava num completo transe. Não era como se não me sentisse em mim, era exactamente o oposto. Sentia-me viva como nunca me tinha sentido. O frio reanimava-me, mas era o aroma do ar puro que me conquistava.
As crianças brincavam com bolas de neve umas contra as outras, mas o amor que tinham, os sorrisos rasgados que mostravam, as gargalhadas incontroláveis que davam, contagiavam-me obsessivamente. Era genuíno o amor que existia em todos os cantos, a diversão que se derretia contra a roupa de alguém atingido por uma bola de neve, a paz na frescura do ar que se respirava.
Cada quilómetro que percorria pela serra, era como se cada tristeza, cada derrota se afogasse pelo caminho e diluía-me os medos. Fui-me perdendo no andamento do tempo e os meus pensamentos ficaram vazios e predispostos a serem ocupados com novos. Mais felizes, mais livres. Estava em casa, na casa que sempre quis viver.
Vive-se na correria do tempo todos os dias, menos por aqui.
Este lugar faz-me sentir mais leve que o vento.
Já não vou a serra da estrela desde pequenina :)
ResponderEliminarAs fotografias são deslumbrantes... As palavras são perenemente mágicas.
ResponderEliminarQue bonitas palavras e fotografias maravilhosas!
ResponderEliminarUm beijinho *
Regressei há tão pouco tempo da Serra e já desejo voltar para abraçar os mesmos sentimentos de plenitude que tu sentiste. Obrigada por esta partilha tão orgânica, Inês :)
ResponderEliminarNum curto espaço de tempo visitei a Serra duas vezes, com neve e ao final do dia vi a nevar.
ResponderEliminarOHCRLN >
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