08/06/2017

O rumo é o abraço que precisas


Desperdiçar noites a olhar para o céu e tardes de inverno à beira-mar a ouvir as ondas vaguear embaladas em ventos indecisos são como sonhos perdidos em marés cheias (de segredos e abraços). Mas a materialização dos sonhos sempre esteve na calçada que pisamos todas as manhãs apressados e atrasados no tempo, nas tardes que conseguimos despachar os afazeres do dia, antes que o dia nos despache a nós sem que terminássemos as obrigações. E nas noites frias, amenas e insuportavelmente quentes, onde o quotidiano não é menos que 20 horas feitas em encontros com a tenacidade da vida, tornando-se vínculo do irreal. Ironia da vida é nada mais que o tempo. Carrega-nos na realidade do viver com o intuito de acreditarmos que os sonhos veem logo de seguida – “com o tempo” dizemos nós, sempre que possível, e acreditamos na estupidez das nossas palavras incrédulas. O tempo corre que é uma coisa por demais. E ainda assim, é coisa que nunca será, porque se o tempo fosse tempo não haveria horas, muito menos relógios a enfeitarem pulsos fracos e paredes astuciosas. Se tempo fosse realmente tempo haveria vida ao invés de sacrifício em prol da sobrevivência. Não se vive de tempo, não nos basta, nem nunca nos será capaz de abater as lamúrias. Somos inteiros e o tempo passa por horas e meias horas e a ambiguidade de abafar espaços que não nos pertencem, a complexidade da tónica tempo versus pessoa é a maior das ironias e das impossibilidades por isso mesmo. Não nos compete sabermos ser apenas por metades, pertence-nos a sabedoria de saber estar em verdades por completo, para que o meio-termo se conjugue no seu ideal entre verdades opostas.

Esperamos oportunidades como a mesma banalidade com que sabemos naturalmente que à hora e meia, acrescentam-se mais umas poucas – Assim será, e sempre foi. Mas do que vale pensar sem sentir. Do que vale ter tempo se não o sabemos contar. Os sonhos aparecem na encruzilhada de saber sentir o que nos faz pensar, no exato momento em que as oportunidades devem ser agarradas. E assim se espera, sem tempo, que o tempo nos traga a alegria e os sonhos, entre as ruas que andamos banalmente sem saber a inteligência que nos guardam. Mas é ali que nascemos vez após vez na esperança vitoriosa de erguer a voz sem a termos. Detemos mais amores que consideramos ser capazes de atingir. E é por isso que os caminhos desconhecidos são os sonhos que caminhamos todas as manhãs sem o sabermos. E a alegria de chegar a casa conta-se nas passadas de estar em qualquer lugar.

4 comentários so far

  1. O tempo pertence-te e nunca o contrário... desde que nunca encares os segundos como sobrevivência mas (Sobre)Vivência!!

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  2. Vivemos numa sociedade que preza a ocupação constante e determinismos. Se decidiste fazer algo naquele dia e não fizeste sentes-te culpada, como a igreja católica tão bem nos ensinou. O tempo é teu para viveres uma vida feliz, não o percas com dor.

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  3. Ahaha, Inês, levo sempre o máximo de máquinas fotográficas que consigo!
    Como sempre, esta publicação <3

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  4. Do que vale ter tempo se não o sabemos contar... Fico cheia de alegria de saber que ainda pairam cá pessoas que escrevem. Que sabem ler a vida. Que conseguem captar os tempos dentro do meio tempo. Continuaremos a caminhar em caminhos desconhecidos.. Só na perdição do que somos encontramos os sonhos que falas dentro de um tempo que não precisamos ter medo.

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